VISOES DO PARAISO DE DEUS EM 1928

VISOES DO PARAISO DE DEUS EM 1928
POR FANNY MOISSEIVA


Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!, porque ocultais o Reino dos céus aos homens; de modo que não entrais nem deixais entrar aos outros” (Mt 23,13)

Observações da Autora:

Muitos homens dizem que depois da morte não existe nada além de um espírito privado de forma... Com grande erro imaginam: o corpo não existe, e tampouco os olhos, a boca, as mãos, etc... somente o espírito. Se realmente fosse assim, então tudo ao nosso redor seria apenas escuridão. Porém eu não encontro nada disso nas Escrituras Sagradas, eis porque sinto o desejo de gritar: “Fora com estes horrores”! E volto a olhar cuidadosamente a Bíblia e não encontro sequer um caso que pudesse confirmar tudo isto; ao contrário, encontrei algo bem diferente:

“E Jesus respondendo lhes disse: Os filhos deste mundo casam e dão-se em casamento, mas os que serão julgados dignos do século futuro e da ressurreição dos mortos não terão mulher nem marido. Eles jamais poderão morrer porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, porque são ressuscitados” (Lc 20, 34-36)

Iguais aos anjos, disse o Senhor. E os anjos, como se sabe, têm figuras e os homens os têm visto assim, com os olhos corporais e têm falado com eles. Dou alguns exemplos tirados somente do novo Testamento. Lucas em 1, 11 diz: Apareceu-lhe um anjo do Senhor ficando de pé ao lado direito do altar dos perfumes.(...)

I

Ouvi uma voz, não sei donde, que falou: Acima, desperta-te Fanny, e olha ao redor atentamente e escreverás o que vês. Nada exceto o Senhor, conhece cada homem, mas chegou o tempo de despertar os corações que estão afogados no pecado.Tu foste escolhida e designada para isto, e o que tens visto não pode ser revelado por um sonho comum. Para ti tem sido revelado o eterno mistério.

Eu murmurei: Mas... talvez eu não consiga entender! E a voz falou: Eu te ajudarei sempre em todos os momentos.

Voltei-me como a despertar, abri os olhos e de pronto fiquei deslumbrada com um amplo azul que se estendia diante de mim numa grande distância. O tempo que havia passado entre as trevas infernais havia ofuscado meus olhos: aqui, diferentemente, a luz se derramava em torrentes e seus raios atingiam tudo ao redor.

Voltei meus olhos e pensei: Que belo aqui! Que ar balsâmico e perfumado! Que formoso jardim! Que esplendidos e multicoloridos vestidos usam as almas que passam por ele! E que límpido céu azul! Nenhuma nuvem empana a nitidez da pureza! Só o atravessavam os anjos, desaparecendo pelo azul imaculado. A erva aqui é sutil, verde, deliciosamente fresca e primaveril, adornada de flores e não se dobra ao solene pisar dos anjos. Que agradáveis são os pequenos caminhos que o atravessam!

Onde me encontro, então? Este é o glorioso Reino de Deus? Este é o Reino, onde infinitos coros de santos e querubins se inclinam ante o trono do eterno? Os sonhos, os benditos sonhos de minha vida; é aqui que se tornam em realidade? Rosas, rosas em quantidade, formam uma alfombra debaixo de meus pés, rosas se unem ao meu redor como grinaldas posando em meus braços e me deleitam com seu suavíssimo perfume.

Pouco a pouco se me aclararam os pensamentos; e logo me ressurgiram as espantosas impressões de minha estadia no inferno. Mas notei que me vieram despertar almas desconhecidas vindo ao meu encontro, leves como borboletas, tanto que eu sequer ouvia seus passos. Tinham vestidos multicoloridos e suas faces eram cheias de felicidade, e refletiam uma bondade sem limites.

Elas me disseram: Irmã: levanta-te! Estás agora no Reino do Pai Celeste, cujo Espírito vive em todas as coisas. Estás aqui, por Sua vontade, para que o homem não se extravie na dúvida, em busca inútil, para que possas contar na terra a nossa vida aqui, porque a viste.

Aquela linguagem era para mim totalmente nova, porém eu a entendia como se fosse a minha língua materna. Levantei-me, tremendo de emoção, ao pensar no que me fora concedido: sair do inferno e anunciar depois, em êxtase, as criações celestes. As almas então, me acompanharam a uma fonte, onde bebi. Como por encanto, todo o meu medo desapareceu e se desvaneceram também os horrendos pesadelos do tétrico inferno. O mesmo que ocorre com alguém que esquece dos pesadelos, tão logo desperta. Então, mais tranqüila, comecei a contar:

Venho do inferno! Ali existe somente uma eterna noite, sem luz alguma, já que lá em baixo a luz foi apagada pelo Senhor. Não existe sol, não existem nuvens brancas. Por toda parte sombras e trevas. A terra não produz nenhum fruto, tudo é vazio e morto e somente pesa, sobre tudo e sobre todos – soberano – o eterno sofrimento. Assim deseja satanás, que ameaça inclusive enviar a terra o anticristo, que converterá os homens em seus escravos.

Eu ouvi, entretanto, suas vozes: Nós rogamos aqui ao Senhor que faça cessar desde agora a vida na terra, porém ele responde que, todavia, não chegou ainda a hora. Que vivam, ainda, os homens.

E voltei a dizer: Lá embaixo, no inferno eu vi... Porém fui interrompida: Não fales! Nós sabemos já tudo! Ali não valem de nada as tribulações nem os tormentos dos pecadores. Aqui, em contrapartida, é o Paraíso, cheio de toda a perfeição, e Deus reina gloriosamente nele, entre os doces cantos dos serafins, enquanto, em todas as partes florescem plantas e maduram frutos. Aqui podem viver somente as almas santas; aqui está a fonte dos pensamentos superiores e das idéias sublimes. A água dos regatos é pura e as asas dos anjos têm um esplendor prateado. Aqui ninguém trabalha e todos gozam dos bens que foram criados para os justos.

Uma delas trazia uma pedra preciosa, diferente das terrestres e tão grande que só a duras penas puder recolhe-la. A quem pertence esta pedra, perguntei? Posso leva-la comigo? Vale muito?

Certamente – me respondeu – seu valor é considerável: vosso mundo não possui pedras similares e nem toda a terra seria suficiente para comprar uma só delas, porém acima, o Senhor as dá a todos que chegam a Ele. Se estás cansada, podes deixa-la no solo, que ninguém a tocará. Tu despertaste a pouco e não tens visto ainda nada ao teu redor. Olha quantas pedras aqui, e ainda mais belas que aquela. Aqui nada se vende nem se compra, porque aqui são inumeráveis as coisas raras. Se tu estivesses aqui há muito tempo, te asseguro que nem as terias tocado. Aqui existem pedras preciosas em tão grande quantidade que já não fazemos caso delas. Nossa alegria são as festas, que nos dão a possibilidade de voar por todos os astros e admirar a glória do Senhor. Nestes dias nos encontramos também com nossos entes queridos. Nas festas, só nas festas, vemos nossos parentes e amigos.

De pronto ouvi uma música dulcíssima: deixei cair a pedra preciosa e partimos daquele lugar. Ao redor de nós havia um dulcíssimo perfume de flores do Paraíso. Junto a uma sonora cascata nos detivemos e admiramos a esplêndida paisagem. Então meu companheiro se uniu a comitiva e, pondo sobre minha cabeça uma grinalda de flores em forma de coroa disse: Aqui há sempre uma bela primavera! Em todo o redor se erguiam majestosas palmeiras, que murmuravam, movidas por uma leve brisa que fazia mover as suas folhas. Naquele jardim havia um grande número de alamedas frondosas e caminhos, porém não se via ninguém andando por eles. Meu companheiro me guiava e me levava sempre adiante, e mostrando-me vários objetos, para mim de todo desconhecidos e sobre eles me ia explicando, porém eu não sabia dar-lhes um nome em nossa linguagem humana. Nem poderia descrever sua beleza, porque a linguagem da terra é demasiado pobre.

Agora te mostrarei – disse meu companheiro – os outros planetas nos quais talvez, um dia viverão eternamente as almas daqueles que na terra foram de outras religiões, mas viveram uma vida reta, e acreditaram num único Deus. E naquele mesmo instante nos encontramos sobre estes planetas sobre os quais me ia falando meu companheiro. Eram formosos por sua cor e me quedei admirada por sua paisagem. Mas meu companheiro me disse que sua beleza era muito inferior ao brilho do paraíso dos cristãos.

Como me havia indicado meu companheiro, estavam por hora desertos e somente o canto dos pássaros rompia o grande silêncio, enquanto vez por outra coros de anjos voavam por cima cantando hinos ao Criador. Agora chegamos aos mundos onde estão as almas dos cristãos.

II

Durante o vôo eu admirava distintos e maravilhosos aspectos da vida celeste. Na passagem encontrávamos grandes e luminosos cometas de cauda flamejante. Alguns tinham três caudas e se iam voando pelo espaço infinito, deixando em sua passagem estrelas douradas. No fundo céu via as estrelas que de repente se separavam de sua rota e se precipitavam no infinito, sozinhas ou em grupos de milhares, formando como que um nuvem de ouro cintilante. Às vezes, em meio a estes mundos, passavam velozes esferas ardentes que deslumbravam a vista. Todo este espetáculo era tão grandioso e inconcebível que eu percebi que tudo aquilo era ainda e apenas uma pequeníssima gota do imenso mar do criado, e quão perfeito e Onipotente é Deus, Criador e Senhor do Universo.

E dirigindo-se a mim, meu companheiro disse: Não existe na terra nenhum mistério que seja comparável em grandeza ao do além túmulo. O homem pode subjugar as forças da natureza, porém não poderá nunca saber o mistério do além. E indicando-me o Céu falou: Vês estes pontos luminosos? São planetas sobre os quais existe uma vida eterna, porém estão separados da terra por um espaço inacessível. Depois, continuando nosso vôo, fomos chegando a um planeta que fazia tempo brilhava entre os outros, similar em forma à terra, porém de dimensão menor. Quando chegamos, observei que o solo de uma cor diferente da terra: era pardo e roxo claro.

Eu me assombrei também pelo imenso número de rios que cortavam a planície em todas as direções. Havia também lagos, porém a natureza em geral se diferenciava da terrena. Até o ar era diferente, porque eu respirava mais livremente. Tudo ao redor era festa de cores. A água dos rios e dos lagos era azul turquesa e não pelo reflexo do Céu, mas sim pela própria faculdade. No horizonte se erguiam montanhas altíssimas de uma cor violeta escuro. Nos achegamos aos bem-aventurados que estavam ali.

Eles contavam a um novo hóspede do paraíso, chegado fazia pouco tempo, a grandeza e a Glória do Senhor, sua Majestade; a sabedoria que concede a eles, a liberdade que gozam ali, onde não se lhes opõe nenhuma barreira nem espaço; sua clarividência, pela qual eles experimentam grandes satisfações. Passa o tempo, os séculos se sucedem, porém nenhum teme esta carreira, e ninguém tem qualquer inimigo. E nos dias de festa nossa alma espera a reunião como seus entes queridos e não pede outra coisa.

Calaram-se, e então ressoou um hino sagrado. Eu olhava cheia de admiração a estes bons seres, almas sensíveis que rezavam e conheceram na terra a piedade e souberam apreciar o trabalho dos homens. Sobre isso me falou meu companheiro quando lhe perguntei por quais caminhos terrenos se pode chegar a este reino.

Subimos até bem alto para admirar o panorama do vale, e um espetáculo grandioso se nos apresentou. Amplas extensões de prados, adornados de esplêndidas flores e árvores curvadas até o chão pelo peso de frutos dourados. Do alto descia um claro raio de luz sobre a floresta de folhagem murmurante. Era o mais esplêndido bosque que eu já vira, e dava frutos que não são vistos na terra, alguns dos quais tinham um aroma como de vinho perfumado. Detive-me ali por longo tempo, fascinada por aquele espetáculo maravilhoso, e enquanto meus olhos apreciavam tudo, a natureza parecia dizer: tudo isso é dom eterno para os justos.

“Agora que vês o reino do além – me disse meu companheiro – é bom que saibas que as almas dos justos às vezes podem descer à terra porém invisíveis a todos. E isso sucede em dias de festa, quando se lhes concede ir a visitar os seus amigos e sua tumba vazia. Mas apenas seus queridos tenham abandonado a terra, esta se volta aos justos, completamente indiferente aos que deixou. Te mostrarei agora a região onde vive eternamente tua mãe.

III

Depois de haver admirado longamente este quadro que me alegrou verdadeiramente, nos dirigimos voando até o local onde se encontrava minha mãe. Chegamos logo nas proximidades de um planeta de dimensões tão excepcionais, que me pareceu ser muitas vezes maior que a terra. Era meio dia e o sol estava pleno. O céu era de um azul puríssimo e estava levemente marcado por nuvenzinhas alvíssimas. Vi os flancos das montanhas brilhar de ouro e prata; pedras preciosas de muitas cores pareciam ter sido espalhadas entre as rochas por uma pródiga mão; corriam arroios e prateadas cascatas iam gotejando; tudo ao redor era formado de pequenos lagos, repartidos aqui e acolá; quietos corriam rios, refletindo em si o sol, as nuvens e a maravilhosa natureza. Aqui havia luz ininterruptamente, pois durante o dia iluminava o sol e durante a noite algumas estrelas o acompanhavam dando-lhe uma luminosidade azul.

Caminhamos por uma ampla estrada que nos levava a um esplêndido jardim, todo rodeado, a maneira de muralha, por uma fileira de ciprestes de espessa folhagem. Aqui, neste reino perfumado, nos detivemos. Fiquei, em seguida, impressionada pela beleza e pela variedade de cores que possuíam as flores daquele lugar, todas inocentes criaturas do Senhor. Algumas, entre elas, eram tímidas e modestas. Outras, ao contrário eram belíssimas, porém totalmente indiferentes à própria beleza. Nenhum pintor saberia reproduzir os tons e os matizes próprios destas flores. Algumas mudavam continuamente e em suas mudanças havia tão grande diferença que é literalmente impossível capa-las e descreve-las. Na terra não existem cores capazes de dar sequer uma pobre idéia desta maravilha. Ninguém na terra pode preparar perfumes que se possam igualar ao doce aroma das flores do Paraíso. Estas flores não produzem embriagues, somente um prazer intenso. Eu respirava, com uma alegria não humana, o ar impregnado daquele dulcíssimo sopro.

E não havia nem sequer uma flor que não atraísse com doce simpatia a minha alma. Eu sentia que em todas elas vive o Espírito Divino, ao qual as cores vivas e as inumeráveis formas servem de expressão, numa harmonia que pode ser claramente intuída.

Tudo aqui era belo. Sem ruído, semelhantes a leves borboletas voavam os anjos. De repente, através da folhagem de uma espessa vegetação, ouvi uma voz bem conhecida por mim, e reconheci a voz de minha querida mãe. Atirei-me para aquele lugar: a voz querida conservava seu encanto de outros tempos, e não via o momento de me encontrar com ela. Diante de nós apareceu um quiosque esculpido de pedra azul, parecida com turquesa nele vi minha mãe, formosa como nunca, alta, esbelta, envolta em véus vaporosos. Seus olhos eram idênticos aos que tivera em vida, porém o rosto era diferente. Também tinha a cintura mais delgada e os cabelos mais brilhantes e penteados de outra maneira. Seu rosto era todo liso, enquanto ao redor da cabeça brilhava uma auréola. E também brilhava uma auréola em torno de todos aqueles que estavam com ela. Ela lhes falava e eu escutava avidamente cada sílaba sua. Depois se levantou e chamou as amigas. Atrás dela ondeava um véu.

Ó que maravilhoso é poder ver, sã e formosa, a própria mãe morta um dia por mãos de miseráveis assassinos. Que belo voltar a vê-la no Paraíso, cheia de um bendito êxtase! Dificilmente se poderia repetir a alegria de minha alma, que seguia em sobressalto a cada movimento seu. Vi seus olhos pousar sobre a imensa amplidão da água, que era toda uma paleta de luzes e cores. Parei diante dela, comovida, ansiosa pela espera e, admirando seu aspecto, recordei minha infância e a chamei docemente: Mamãe! E chorei, beijando-lhe as mãos, enquanto meu coração batia forte.

Porém ela não sentia a minha angustia nem minha ansiosa chamada, apenas olhava a eterna beleza das águas com um maravilhoso sorriso nos lábios. Abracei-a e encostei minha cabeça ao seu peito? Mamãe! Porque estás tão indiferente aos carinhos de tua filha? Diz-me, mamãe, pelo menos uma palavra! Porém ela estava calada. Acaso não me reconheces mais? E dizendo isso, beijava seus vestidos, mantendo-a abraçada, porém ela, vaporosamente me escapou. Eu fiquei muito triste: Companheiro, sou por acaso uma desconhecida para ela? Não – me respondeu ele – isso é porque tu pertences à terra e ela ao Paraíso. E assim nos fomos voando pelo crepúsculo azul. Por toda parte, em meio às flores, brilhavam luzes acesas em honra a Deus. Aqui não existe sol como em outros mundos; aqui a luz vem de Deus.

Voamos mais acima, porém quanto mais me elevava, mais crescia em minha alma uma grande tristeza, entrementes eu ia olhando cuidadosamente os montes e os bosques deste planeta, onde havia deixado minha mãe.

Não fiques triste – disse meu companheiro – tu viste que tua mãe recebeu o dom do Paraíso. E a verás mais uma vez, junto com teu pai, quando assistirmos juntos a festa das festas, a maior de todas as festas, a Santa Páscoa. Agora, em tempo, te mostrarei um planeta cujo esplêndido aspecto te assombrará muito.

(Perdão ao leitor, mas segue-se um parágrafo, que por ser polêmico prefiro descartar, que forma o capítulo IV. Vamos ao próximo capítulo)

V

Como deveríamos visitar ainda outros planetas, re-emprendemos nossa viagem. Por cima de nós vimos uma belíssima estrela e para ela nos dirigimos. Mas quando chegamos perto, ela desapareceu. Havíamos entrado em uma cobertura de vapores que vagavam lentos pelo céu difundindo, por toda parte, sombra e frescura. Quando os transpusemos, vimos palmeiras altíssimas que pareciam tocar os céus e esparziam sombra ao redor com sua folhagem, prometendo repouso e quietude. Das palmas saíam frutos estranhos, grandes e cheirosos, de polpa rugosa, de diferentes formas; abaixo delas se estendiam, como alfombras, prados cobertos de flores. De vez em quando o azul do céu se adornava de raios multicores.

Este era o mais solene de todos os planetas; aqui havia inumeráveis tesouros: as montanhas eram de ouro e pedras preciosas, que deslumbravam os olhos. Nos lagos azuis a água era tranqüila e não se ondulava, permanecendo sempre pura e cristalina. Descemos sobre um prado cheio de flores, onde as árvores frutíferas dobravam seus ramos até o solo. Eu colhia aqueles frutos, que pareciam dissolver-se na boca, porém não encontrava nenhuma semelhança com os frutos da terra. Sobre este descampado, uma fonte luminosa do céu espargia sua luz; seus raios rosados se espargiam pelo espaço, dando ao ambiente, tons muito delicados.

A erva era fina e atapetada como uma alfombra que cobria, por vontade divina, toda aquela mágica extensão; e das grandes alturas caím brancas fileiras de cascatas. Aqui estão as moradas dos santos, me disse meu companheiro, e lhe perguntei então se no Paraíso havia diferença de tratamento entre as almas.

“Sim, disse meu companheiro, aqui a vida é diferente para cada uma destas almas, como são diferentes os planetas do Céu: cada um recebe a graça sempre dentro do limite de seus méritos terrenos, e não pode ser mais ampla ou maior do que isto. Certamente há uma grande diferença, porque os justos levaram apenas uma vida normal, sem fazer mal, e seguindo os mandamentos com os limites de suas próprias forças. Mas os outros, os santos, têm feito, em contrapartida, de sua vida um sacrifício de louvor a Deus e desprezando os bens deste mundo se entregaram completamente a Deus, vivendo somente uma vida espiritual. E muitos deles, que têm estado, todavia na terra, se tornaram quase espiritualizados; por meio deles o Senhor manifestava Seus sinais; e através deles criava milagres e através deles implorava que cumprissem Sua vontade”.

E vós, ó homens, conservai uma eterna memória deles, e sejam, as festas em sua memória (dos santos) uma recordação de louvor aos seus maravilhosos feitos. E que os homens amem e respeitem a vida espiritual, grande e santa, que eles levaram da terra.

Neste entretanto, ao nosso redor soavam harpas invisíveis e os santos passavam ligeiros sem que seus passos deixassem marcas. Seus movimentos, seus gestos e cantos eram de uma beleza nunca vista. De vez em quando, como relâmpagos, passavam anjos, cujo doce canto até agora ainda me ressoa aos ouvidos.

Entrei em uma morada e vi um santo que estava pensativo com os olhos fixos no espaço. E meu companheiro me explicou que este santo enviava seu pensamento a outro mundo, para se corresponder com um amigo. Depois saímos dali e voamos baixo, entre as moradas dos santos, e as pude admirar muito, com seus esplêndidos e perfumados jardins. Nestes jardins se recolhem os santos, com seus vestidos brancos e claros como o sol. Suas cabeças estavam rodeadas de uma claridade como de auréola dourada, e notei que esta luz somente emanava dos santos, derramando-se deles e iluminando tudo ao redor e até atrás deles se derramavam torrentes de luz dourada.

Diminuímos nosso vôo, e nos detivemos em cima de um alto monte; e daqui pode ouvir uma campainha, que repercutia também em mim. Ouvia aqueles sons com a alma e compreendia que anunciavam aos anjos e aos santos a luminosa manhã. Era – compreendi em seguida – o alvorecer do dia puríssimo, o alvorecer da Santa Páscoa.

Aquele repique não era outra coisa senão o ressoar das ondas jubilosas de gozo dos bem-aventurados. De repente, todos se levantaram para voar. E me parecia que um anjo me bateria com as asas ou me queimaria com um raio ardente. Onde havia ido meu companheiro, o protetor de minha alma adormecida? Eu estava intranqüila e comovida: o céu flamejava luzes vivíssimas e foi aqui que voltei a ver meu companheiro. Estava junto de mim! E me disse: Agora tu voltarás só, pelos céus esplendorosos, enquanto eu irei com os outros.

E aconteceu que, embora me sentisse uma nulidade em comparação com os santos, de improviso me cresceram nas espáduas, asas luminosas: Eu as abri ligeiramente; elas me elevaram pelo céu. Junto de mim disse uma voz: É preciso ensinar tudo à alma de um ser vivo. Me olhei e me vi com roupas novas. As asas me levaram cada vez mais alto e enquanto eu voava pelo azul infinito, não me acudia a mente nenhum pensamento.

Ao redor, os espaços infinitos. Que ilimitada distância! Meus olhos curiosos já não se assombravam com mais nada: no espaço infinito, sempre novos mundos, iguais em aparência, entretanto sempre novos me pareciam. Tudo era tão novo para mim que eu me esquecia até de mim mesma e ia vagando pelo céu, ligeira como um pássaro, ébria de espaço, cantando pela alegria desta vida imortal. O santo coro cantava os feitos da vida de Cristo na terra, enquanto com seu azul, o céu perfilava e rodeava maravilhosamente os corpos dos santos. Em seus olhos havia amor e beatitude: seus corpos eram transparentes sobre o fundo radioso do céu. Meus olhos buscavam com avidez cenas e aspectos desconhecidos da vida celeste. Por todas partes, novos mundos e infinitos espaços. Eu subia cada vez mais alto e não queria voltar mais para baixo: a antiga timidez tinha desaparecido e os espaços celestes já não me atemorizavam.

VI

Assim entrei no Paraíso onde cada mínimo rumor de prece é como incenso nos ares. Que esplendoroso, amplo e luminoso era. Por todas as partes ardiam luzes, acesas pela própria mão do Criador. Os moradores, dignos do Paraíso, se estavam reunindo para a festa. Eu fiquei impressionada com a extraordinária beleza das flores e das grinaldas que adornavam os altares, diante dos quais se queimava incenso em honra ao Deus Criador.

Que maravilhosa festa! Os formosos toucados estavam impregnados de aromas dulcíssimos, muito diferentes dos terrestres. Os vestidos não eram tecidos, porém havia árvores colossais que produziam grandes mantas, adequadas para cobrir-se. Eu tinha ouvido o rumor daquela folhagem que deixava cair no solo gotas de orvalho, e também vi outras plantas de folhas parecidas com asas de borboletas, gigantescas e multicores. Neste planeta os vestidos de cada um se reconheciam pela cor. Todos segundo seus próprios méritos: cada habitante do Paraíso tem suas cores, que se fixam e assim ficam para sempre. Há quem tenha amarelo, roxo, verde...

Todas as coisas no Paraíso são multicores; assim, que cada um, segundo a sua cor, pertence a uma determinada categoria de almas. Estas podem vestir-se e adornar-se segundo esta categoria; se alguma destas almas quiser trocar seus esplêndidos vestidos com outro da mesma cor, porém não de outro matiz, podem fazer e então, o outro, deixado de lado, voa e se desfaz no ar. O efeito que se obtém é esplendidíssimo, e também as auréolas despendem chispas da várias cores.

Eu vi como iam chegando os anjos, com seus vestidos azuis a asas brancas que o vento movia. Que formosos eram em sua eterna juventude. Depois, a noite cobriu a abóbada celeste com véus escuros. Todos levantaram os olhos cheios de esperança e um coro dulcíssimo começou a cantar: Todos estão em Cristo e Cristo está em todos! O canto tinha uma harmonia que para descreve-la são inúteis as palavras. Todos esperavam em silêncio, imóveis, com os braços cruzados sobre o peito. Parece que algo os impedia de moverem-se; e a distância se ouvia o rumor de asas, enquanto se abriram milhares de novas flores e cantaram milhões de anjos. A mente, que vaga absorta em luminosos pensamentos compreende como se alguém o tivesse dito: Cristo Ressuscitou! e não pensa outra coisa. Todos choravam mansamente, tanto lhes havia comovido aquele doce canto.

O canto era cada vez mais forte, recordando o Calvário de Cristo: o Sagrado Templo do Universo ressoava de hinos sagrados. De repente todos se calaram de emoção: pressentia-se a presença de Cristo! Os pássaros haviam deixado de cantar e os anjos haviam parado de falar. Quieto também estava o bosque, até a pouco tão loquaz. Toda a natureza estava imóvel sentindo a festa de seu Senhor. Os anjos, na espera de Cristo, continham até a respiração. Foi então que do alto chegaram sons alegres coros, cantados somente por maravilhosos querubins. Estes tinham asinhas resplandecentes de ouro, todas tensas como as pétalas de uma flor, enquanto suas cabeças se inclinavam delicadamente. Ligeiras e suaves estas cabecinhas rodeavam a Cristo, e seu canto era sobre-humanamente doce. Eram miríades, e suas asas se moviam sem tréguas.

O esplendor do céu, entretanto as tornava ainda mais formosas: e as auréolas irisadas que os rodeava entrelaçavam-se entre si produzindo um efeito dos mais extraordinários; aumentavam as vibrações da música encantadora, aumentavam os acordes do jogo de luzes, aumentava a alegria das almas e uma onda de emoção invadia a intimidade da alma. Não podem ser encontradas as palavras exatas para descrever a imensidão daquela alegria e daquela felicidade. Esta alegria, e esta felicidade, não são como as conhecidas na terra: são eflúvios que fazem vibrar todo o ser, como se nos transportasse a um êxtase sublime. A alma, em tal momento é como se quisesse chorar e também cantar.

Reluzia Cristo, infinitas vezes mais que o esplendor do sol e ante a Luz que Dele emanava, tudo o mais se escurecia. Ao Seu redor, os querubins cantavam docemente: A natureza se adorna do Senhor! E vinham em direção Dele, com as mãozinhas debaixo das asas, e desapareciam em Sua luz. Na amplidão do etéreo caminho estavam esparzidas flores em profusão, e rosas, em memória da ressurreição. Em torno de Cristo havia uma auréola que igualava em esplendor à soma da auréola de todas as criaturas. Seus olhos reluziam de amor: a cor de suas pupilas era a cor do Céu e suas vestes estavam entrelaçadas de claros raios.

O Espírito do Altíssimo brilhava em Seu rosto. Ele Se alegrou com todos os justos pela vitória sobre o inimigo e todas as almas tiverem um só alento junto de Cristo. E em seus rostos floresceram sorrisos ao ouvir a saudação: Glória ao Senhor! O som da música celeste, perfeita em seus acordes e ressonâncias, mesclava-se com a perfeita harmonia, tão diferente da música terrena que é impossível descrevê-la!

Há, nas notas, completamente desconhecidas aos ouvidos dos mortais, como que doçura e santidade. Esta música das esferas celestiais desperta nas almas dos ouvintes uma alegria tão luminosa e pura, que tudo o mais se esquece e se apaga; um único desejo toma todas as almas: render honra e glória continuamente ao Senhor! Cantaram logo em resposta, e apenas se calava um coro, ouro começava o mesmo canto.

Então se levantou a Virgem Maria e se pôs aos pés do Senhor, porém distante, resplandecendo no fulgor de seus raios, enquanto na parte oposta se ergueu o Arcanjo São Gabriel, que levantando uma fugida Cruz anunciou: Cristo Ressuscitou! E milhões de almas responderam: Em verdade, Ele ressuscitou!

Junto de mim passou um santo, e sua face me pareceu com a de alguém que eu não via ha muito tempo. Tremendo de emoção, eu escutava o grito sempre crescente da multidão: Cristo ressuscitou! Cristo ressuscitou! E ao redor Dele havia muitíssimos cristãos, de todas as partes e seu amor igualmente animava a todos. Os querubins voavam por todos os lados, alegres, cantando louvores pela vida eterna. Seu canto punha a alma em êxtase, e os justos sabem bem que mil anos de feliz Paraíso passam como um só dia. Suave se ouvia um som de lira e o divino mundo estava impregnado daquela melodia encantadora. A cada passo aumentava a alegria e cada vez mais alto ressoava a oração. E eu vi como o irmão se encontrava com a irmã. Havia chegado a hora da data festiva e as almas voavam uma para a outra.

Não era uma reunião como as que estamos acostumados a ver aqui em nosso mísero mundo terreno. Ali as almas estão privadas de seus corpos, não têm necessidade de expressões exteriores para manifestar seu afeto, pelo que interagem apenas com um movimento da parte sensitiva da alma. E como todo o Paraíso está como que impregnado de amor, e tanto o ar do espaço está saturado dele, que por eles se transmite o amor, por meio de vibrações. Não há necessidade de falar: cada alma é transparente ao pensamento dos outros e nada se pode esconder.

Assim, quando se encontram os entes queridos que se amam, sua auréola cintilante irradia muitas vezes mais, pela alegria do encontro. Porém, ao mesmo tempo nunca se esquecem, por primeiro de tudo, de amar ao Senhor. E assim eu vi encontrar-se homens e mulheres muito diferentes, que haviam vivido em épocas distintas, porém todos se sentiam unidos ao Senhor. Ao redor, todo o firmamento despendia raios de luz vivíssima, como uma formidável expressão do Amor Universal.

Que outra alegria pode comparar-se a esta ternura infinita? Deus concedeu aqui o dom do Amor, e aqui não se fala mais que de amor, porém um amor santo, enlevado e não terreno. Aqui são desconhecidos os sofrimentos do amor terreno.

Depois que duas almas se haviam encontrado, entoando um hino, elas voavam ar afora em um êxtase amoroso. E eu disse a meu companheiro: Sem o amor, o Paraíso não seria perfeito! Pelo eu ele me disse: Aqueles que tenham amado em vida permanecem unidos no amor também depois da morte!

Tu me havias prometido – disse eu ao meu companheiro – me mostrar o dia de festa de meus pais. Porém, como, não os viste?Não, disse eu surpreendida! E ele falou: talvez não os tenhas reconhecido, mas entrementes, passaste precisamente junto deles. Nos dias de festa, quando os justos vêem a este planeta, é concedido a todos os parentes unir-se, gozando juntos a alegria do encontro. Eu te havia prometido uma coisa e a mantenho! Olha, estão aqui! Então eu os vi e verdadeiramente e reconheci a meus falecidos pais: e experimentei um infinito sentimento de amor, de ternura e de emoção. Porém eles desapareceram em seguida!

Olhando ao redor vi que todos tinham o mesmo aspecto inteligente e feliz, assim que ninguém necessitava de conselhos e ajudas, porque cada espírito já havia entendido tudo aquilo que Deus concede compreender as suas criaturas. E é tal que, se o Senhor oferecesse a quem tenha sido na terra um pobre mendigo, o voltar a vida terrena como um imperador, ou rei deste mundo, ele choraria suas mais cálidas e sinceras lágrimas, rogando ao Senhor que não o privasse nunca das alegrias celestiais. Ó, que doce é a vida no Paraíso!

Então, Cristo começou a conversar com todos. E a Ele subiam louvores e bênçãos, mas ninguém ousava achegar-se perto de sua Sagrada Pessoa.

VII

E naquele momento a Virgem dirigiu uma ardente oração a Cristo. .
Assim havia rezado a Santa Mãe Maria, e naquele momento um dos justos, com vestido de ouro, se prostrou diante de Cristo e de braços abertos Lhe dirigiu a seguinte oração: Ó senhor, no luminoso dia de Tua ressurreição, da libertação do povo que um dia confiaste ao meu cuidado, faz ressuscitar na fé e guia seus passos para o justo caminho. Senhor, favorece a meu povo: A Rússia chora! Eu tenho estado lá em baixo e tenho visto como todos, a exceção de uns poucos ímpios, invocam Teu Nome. Ó Cristo, Senhor do mundo: Tu que vês tudo, e podes tudo, ajuda-os!
Ele o olhava com profunda humildade, encolhido, e de pronto reconheci: ante Deus estava meu soberano! Que terminou dizendo: ó Senhor perdoa-nos, que somos teus servos! Depois se calou com um grave suspiro!
Então falou Cristo sobre a vida Eterna e todos O escutaram com muita atenção, porém as palavras do Senhor eram tão elevadas que não tinham nada a ver com nossa mentalidade terrena. Não se podia escutar as palavras de Cristo, sem comover-se, tanta era a bondade do Senhor; minha mente não as compreendeu! Mas minha alma sim, porém este mistério é sobre humano: Eis porque esta Páscoa foi para mim tão luminosa!
A Santa Mãe, toda resplandecente de raios, tomou lugar junto a seu Divino Filho e meu soberano e disse: Tua sabedoria, ó Senhor, é tão grande que Tua vontade é para mim mais querida que a minha. E então uma onda de entusiasmo pareceu envolver a todos. Cristo ascendia! Para Onde? Mistério!
Mistério que a alma não pode resolver, que os olhos não podem saber: onde se encontra Deus! Subia Cristo e junto com Ele sua Mãe Santa, esplendidíssima em sua majestade. E enquanto eles desapareciam naquele mar de luz, os bem-aventurados cantavam:
Glória infinita a ti, ó Salvador!
Sol e alento do Paraíso!
Tua Luz, que nunca se escurece e morre,
Nos entra como o ar de um suspiro!
E vemos com a visão espiritual
Os muitos Universos de Teu Reino.
Tua face, aguda como flecha,
Transpassa cada alma em seu perfil
E seu destino eterno traça.
E nossa eternidade formosa,
É como um milagre:
Vemos a paz do Universo
E nele, a paz de cada estrela,
De cada mundo, que é sagrado.
Teu comando ordena os céus!
Por tua Vontade Divina está traçado
O caminho de cada um,
E por toda a eternidade.
Assim cantava os louvores a Crist,o o coro celestial. Depois todos os bem-aventurados voaram: uns para seus parentes, outros para seus amigos, e outros para a terra, para rever a seus queridos amigos.
Difícil é descrever as esplêndidas alegrias e os divinos êxtases de muitos, mas me foi proibido falar. Com certeza, se o homem pudesse imaginar o que é o Paraíso, com que desejo não invocaria a morte? Porque no além, acima, se sucedem sem fim as alegrias, umas atrás das outras. Eu não saberia decidir outra coisa. Por pura casualidade me foi concedido visitar o Paraíso!
Conclusão da Autora

Neste momento, passei a experimentar um cansaço geral. Tive a sensação de que algo como um vestido pesado, tosco, áspero e estreito encerrava meu ser etéreo. Fiz um movimento com a cabeça, movi meus braços e senti o contato com uma tela. Isso é um cobertor, pensei confusamente!
Abri os olhos e em lugar do Céu límpido e luminoso vi o teto da sala, as paredes brancas e a cama do hospital. Meus sonhos haviam terminado! Eu havia despertado, depois de um sono letárgico de nove dias.
Desde Han-Kow – China – fui levada a ir até a enorme cidade de Shangai, para uma operação urgente. Pelas ruas se levantavam magníficos e soberbos palácios, sede de bancos europeus e chineses. Os hotéis de luxo me recordavam os palácios imperiais reais, e também as casas de comércio, nas ruas principais, pareciam imponentes palácios. Os mostruários das joalherias deslumbravam os olhos com o cintilar de suas jóias e no horário noturno as salas dos grandes restaurantes e dos “dancings” da moda pareciam lugares de alegria, no apogeu da felicidade e das alegrias sexuais.
Porém para mim era penoso, triste, observar tudo isso: Que coisa miserável isso tudo! Que mesquinharia! Que indizível nulidade ante a majestade das cenas que vi e que certamente as vereis também vós todos, depois de vossa morte terrena. Eu sei que em meu relato, muitas vezes minhas palavras foram incapazes de descrever com exatidão os matizes e as sensações experimentadas pela alma. Mais que nada foi difícil dar-vos a conhecer com palavras terrenas o sentimento do Amor, que é absolutamente impossível fazer compreender em sua altíssima beleza, amor que não tem comparação nem limites e ultrapassa a possibilidade do humano pensamento.
O Universo do Senhor é tão imenso que até as mais incríveis conquistas terrenas parecem pequenas, tão pequenas e mais miseráveis do que um grãozinho de areia diante do imenso oceano. E agora, na última pagina de meu livro, ao decidir dar adeus aos meus leitores, quero recordar as grandes e santas palavras da oração: Pai nosso, que estais no Céu, santificado seja Vosso nome.... Pelos séculos dos séculos